Desconhecimento ou Preconceito?

O dia-a-dia do Legista

Acredito que uma coisa leva a outra. O desconhecimento do ofício do Médico-Legista, faz com que as pessoas tenham preconceito em relação ao que fazemos no nosso dia-a-dia.


Com relação a este assunto, quero falar de três preconceitos que a população em geral e até os colegas médicos, têm em relação a profissão do médico-legista, são eles:

1) O médico-legista é aquele médico que só trabalha com cadáveres;

2) O médico-legista é aquele profissional que sabe tudo, mas só chega atrasado;

3) O médico-legista é aquele médico que não deu certo na sua especialidade e resolveu prestar um “concursinho” para garantir sua aposentadoria.

Em relação ao primeiro, quero informar que apenas 5% do periciandos são cadáveres. O restante são vítimas e agressores vivos, encaminhados pela autoridade judiciária, para serem submetidos a exame de corpo de delito, onde serão materializadas as provas do delito que contribuirá para o julgamento correto dos processos nos tribunais de justiça. Portanto, a maioria do nosso trabalho está relacionado ao atendimento de corpos humanos vivos.

Dizer que o médico-legista só chega atrasado, é não ter conhecimento da Lex Artis Medica, que fique registrado – quando se trata de um cadáver, a nossa atuação é a mais importante e oportuna possível. É quando devolvemos a dignidade a um corpo, garantindo sua identidade, a causa e o tempo da sua morte. Oferecemos as provas necessárias para os operadores do direito tipificar o crime, elucidar o caso e julgar corretamente. Por fim, proporcionamos o término da sua personalidade civil, deixando o indivíduo de ser sujeito de direitos e obrigações, podendo, enfim, ser inumado com segurança.

Agora, comentando o terceiro preconceito, posso garantir que o nosso conhecimento médico é igual ou superior a qualquer especialista, pois somos obrigados a estudar o essencial de cada especialidade médica para podermos ter os conhecimentos necessários ao fundamentar as conclusões de uma perícia com conhecimento de causa. Se não bastasse toda essa dedicação, para ser médico-legista, somos obrigados a passar e ser classificados em um concurso público concorridíssimo, cursar a Academia de Polícia e se, aprovados, tomar posse como Perito Oficial do Estado.

Concluindo, nós somos médico-legistas porque gostamos de ser médico-legistas. Quanto aos leigos, não podemos fazer nada a não ser esclarecer nosso trabalho, mas em se tratando de um colega médico, antes de manifestar algum preconceito contra nossa especialidade, ponha a mão na consciência e reconheça que você está diante de um colega, com uma bagagem de conhecimento, que pode ser maior que a sua.


Murilo Valente-Aguiar

Médico Perito Oficial Legista da Polícia Civil do Estado de Rondônia. Exerce sua atividade no Instituto Médico Legal Dr. José Adelino da Silva em Porto Velho - RO

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